23 de junho de 2008

Instante

Por dois segundos
Consigo entender tudo
Tudo fica claro, tudo fica brando
Quando se pensa que são dois segundos

Raro instante onde tudo é um
Nada é separado, corpo fechado
Sujeito e objeto se confundem,
na vida e na frase sem ordem
que só os poetas mortos
escrevem em ossos

O tudo é calmo e coerente
Não me importo
Não fico nem triste, nem contente
Mas também não sou indiferente
Ou o sou à flor da pele.

Indiferença à flor da pele
Seria um sentimento?
Ou a total falta dele?
Não é mais que por um momento
Não agüentaria se não fosse

Por dois segundos
Na boiada não sou boi
Nem quero bancar o rei
Não olho pro passado que foi
Mas sei qual é a sua lei

Não penso nada
Nada vi, nem falo
Na ambigüidade do verso acima
Elaboro qualquer rima
Mas continuo em frangalho
depois do tempo passado

Não sei a razão
Nem a condição
Não sei se é por opção
Status divino, saber sem função
Deve ser assim que Ele sabe

Agora acabou o tempo
E eu voltei a não saber


Bruno Faria

14 de junho de 2008

Inconsciente

Se eu pudesse escolher...
Meu coração seria de diamante
Seria transparente, assim como dantes
E também eloqüente a todos os amantes

Se eu pudesse escolher...
Meu coração seria de ferro
Duro e inflexível, mesmo no inferno
Sem sinais de nobreza ou de dor
Estaria sempre neutro
Enchendo-me de nenhum valor

Se eu pudesse escolher...
Meu coração seria de vento
Dentro de mim acolheria o tempo
E sempre estaria, mesmo que não soubessem,
Observando como os amores adormecem.
Então, despertaria todos com um só sopro
Sentiriam o vento para mais de um corpo

Se eu pudesse escolher...
Eu seria coração
Um coração santo como todos são
Não santo por isentar-se de pecado
Que aliás, disso, tem um bocado
Porém, ainda assim, é imaculado
Já que para pecar ele tem toda permissão
Pois, quem vai punir o coração?
Dá-se ao luxo de simplesmente desejar

Ah! Se eu fosse coração...
Por não pensar eu seria conhecido
Por sentir eu seria saudado
Por desejar eu seria executado

Ah! Se eu fosse coração...
Para que morresse no suicídio do outro
E vivesse eternamente morto

Ah...


Bruno Faria