29 de outubro de 2008

Classificados

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HERÓIS:

Vende-se herói, político experiente e respeitado no exterior. Com seus contatos conseguirá, enfim, te trazer a fortuna tão esperada. Sempre alinhado com sua distinta gravata vermelha e cabelos grisalhos possui o semblante da sabedoria e seriedade.

Vende-se herói, homem do povo que quebrou as correntes para lutar por você. Está sempre pronto a brigar contra os opressores e sorrir para os desfavorecidos. Identificado por sua camisa vermelha (marreta biônica e antenas compra-se separadamente) e barba este é o herói que segura na sua mão, pois só assim se faz o cordão humano.

Vende-se herói, a flexibilidade de propostas é sua maior característica. Sem vestígios de firmeza, deixa que você governe por ele (desde que seja o patrocinador). Sua vontade não é discutida, assim como os ideais partidários também não são. Um homem que acredita na democracia!


Informamos que todos já vem com cara de honesto*
Tenha já o seu!
*já vem com a aparencia, personalidade não incluída

validade de 4 anos

20 de outubro de 2008

Pré-requisitos para uma vida feliz

Ter amigos
Ter amados
Ter amigos amados
E amados amigos

Ter uma fantasia não realizada
Ter várias sendo realizadas
Ter realizações fantasiosas
E fantasiar realizações

Ter pensado em virar hippie
Ter tentado aprender violão
Ter desistido de virar hippie
Ter cansado do violão

Ter sono vendo televisão de tarde
Ter perdido o sono e ido pra TV à noite
Odiar ficar sem televisão dia de semana
Não se lembrar da televisão aos fins de semana

Ter alguém pra conquistar
Ter sido conquistado por alguém
Lembrar de alguém todo dia
Todo dia ser lembrado por alguém

Ter deixado pra amanha
Ter vivido um dia hoje
Ter vivido o amanha, hoje
Ter percebido o hoje, amanha

Ter saudades de pessoas
Ter saudades de ocasiões
Ter ocasiões para matar saudades de pessoas
Ter saudade dessas ocasiões

Ter rido sozinho
Ter vontade de gritar sem motivo
Não gritar sem motivo
Ter motivo para rir sozinho

Ter certeza da dúvida
Ter dúvida da certeza
Não saber, às vezes
Nunca dizer que não sabe

Ter vontade de ser mais
Ter certeza que nada acima te garante felicidade
Saber que se não tem... ah, e daí

Bruno Faria

27 de setembro de 2008

Pena

Ponho aqui um poema de um jovem brasileiro que começa a ganhar seu espaço. Pode até não parecer muito impressionante, mas, conseguir espaço proclamando a arte livre (livre de politicagem, capital, interesses, egos...) e seguindo sistematicamente aquilo que prega, é para poucos... na verdade só sei dele até hoje...
Esse poema me soa como um grito num mundo governado por cifrões, onde se mede o homem pelo seu salário. Será que é tão difícil entender que somos mais do que podemos ter no bolso? Ou que a arte vale por si?
Bem... acho que essa indignação está bem explicitada no texto, tornando-se redundante a minha manifestação... então, embebedam-se desse poema.
A POESIA (ainda) PREVALECE!!!
Composição: Fernando Anitelli e Maíra Viana

O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Um sorriso por ingresso
Falta assunto, falta acesso
Talento traduzido em cédula
E a cédula tronco é a cédula mãe solteira
O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Acordes em oferta, cordel em promoção
A Prosa presa em papel de bala
Música rara em liquidação
E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
A Luz acesa
Lá se dorme um Sol em mim menor
Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior
O palhaço pena quando cai o pano
E o pano cai
A porcentagem e o versorifa, tarifa e refrão
Talento provado em papel moeda
Poesia metamorfoseada em cifrão
O palhaço pena quando cai o pano
E o pano cai
Meu museu em obras, obras em leilão
Atalhos, retalhos, sobras
A matemática da arte em papel de pão
E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
A luz acesa
Já se abre um sol em mim maior
[Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior]

17 de agosto de 2008

Dissertação em /ka/

O acaso é a melhor intenção
Joga-se dados sem nenhuma razão
Cara ou coroa só por diversão
Acaso ocasiona a causa da causalidade
Caçamos com um tacape um porquê sem haver

Coisas acontecem ao acaso
Os casos de casamento cabem na caçamba
Eles corroeram quando carícias fora dele conheceram

Quente ficou o cotidiano
de queridas Cassandras
capazes de cópulas cretinas
Sem esquecer do cuidadoso carinho no couro cabeludo
num cafuné querido por quem é
Só pra ter o cansado corpo novamente em pé

Cantorias gemidas cabem no coração
Acabando com cada caco de fé
Colaborando com a queda da que faz feijão
Caso a casa caia, caiu
Casamos por acaso
Casamento que: cadê quem viu?

Cacete caído em coma na cama conhecida
Já nas bodas de couro no couro nunca dá
Mesmo cacete carente querendo calcar
em colchões encaroçados depois de um bar

É decadente encantar o destino
Crescemos em ocasiões causadoras de consequências
Em contos sem escrituras
Corremos cada qual pra um canto
Nunca cada canto p'rum qual

Cacofonicamente incalco na cuca
o curso corrido onde o cuco
não canta a cada hora, como antes
canta quando quer
quebrando correntes,
criando crimes
Queira querer!
Ou cante contente no continente
Procure a cura com candeeiro
Encontre o caprichoso acaso
catando capa de destino

Bruno Faria

23 de junho de 2008

Instante

Por dois segundos
Consigo entender tudo
Tudo fica claro, tudo fica brando
Quando se pensa que são dois segundos

Raro instante onde tudo é um
Nada é separado, corpo fechado
Sujeito e objeto se confundem,
na vida e na frase sem ordem
que só os poetas mortos
escrevem em ossos

O tudo é calmo e coerente
Não me importo
Não fico nem triste, nem contente
Mas também não sou indiferente
Ou o sou à flor da pele.

Indiferença à flor da pele
Seria um sentimento?
Ou a total falta dele?
Não é mais que por um momento
Não agüentaria se não fosse

Por dois segundos
Na boiada não sou boi
Nem quero bancar o rei
Não olho pro passado que foi
Mas sei qual é a sua lei

Não penso nada
Nada vi, nem falo
Na ambigüidade do verso acima
Elaboro qualquer rima
Mas continuo em frangalho
depois do tempo passado

Não sei a razão
Nem a condição
Não sei se é por opção
Status divino, saber sem função
Deve ser assim que Ele sabe

Agora acabou o tempo
E eu voltei a não saber


Bruno Faria

14 de junho de 2008

Inconsciente

Se eu pudesse escolher...
Meu coração seria de diamante
Seria transparente, assim como dantes
E também eloqüente a todos os amantes

Se eu pudesse escolher...
Meu coração seria de ferro
Duro e inflexível, mesmo no inferno
Sem sinais de nobreza ou de dor
Estaria sempre neutro
Enchendo-me de nenhum valor

Se eu pudesse escolher...
Meu coração seria de vento
Dentro de mim acolheria o tempo
E sempre estaria, mesmo que não soubessem,
Observando como os amores adormecem.
Então, despertaria todos com um só sopro
Sentiriam o vento para mais de um corpo

Se eu pudesse escolher...
Eu seria coração
Um coração santo como todos são
Não santo por isentar-se de pecado
Que aliás, disso, tem um bocado
Porém, ainda assim, é imaculado
Já que para pecar ele tem toda permissão
Pois, quem vai punir o coração?
Dá-se ao luxo de simplesmente desejar

Ah! Se eu fosse coração...
Por não pensar eu seria conhecido
Por sentir eu seria saudado
Por desejar eu seria executado

Ah! Se eu fosse coração...
Para que morresse no suicídio do outro
E vivesse eternamente morto

Ah...


Bruno Faria