14 de julho de 2011

Minha Pracinha


Quem passa na praça não pede passagem
Paisagem de gente, do fino ao sem dente
Passa ela como em passarela de vestido na canela
Entremeia em seu rastreio a criança sem receio
Recheio de doce a desvia do caminho
Quem deixou esse guri andar sozinho?

Banco é ninho de namorados e cama de desabrigados
Bom seria se o verso inverso, a eles, fosse dado
A pipoca é salgada no tempero e no custo
Quem vende quer sustento, quem compra preço justo

Praça é palco de público que não se sabe ator
Personagens tão bons com só um espectador
As diferenças completam esse lugar
O segredo de ser igual é se diferenciar

12 de julho de 2011

Pedido Perdido

Queria eu não saber o que desejo
Pra vontade não atormentar
Aí, quem sabe num relampejo
Todo desejo eu possa despejar

Peço esse como último pedido
A você que escolhe o que quero
Faça meu anseio desconhecido
A fim de rejeitar meu esmero

Não me entenda mal, caro mundo
A ignorância não me faz feliz
Só peço que ponham, por um segundo,
no meu corpo santo, coração de meretriz

Se for necessário alguma explicação
Desculpe não é aqui onde vai encontrar
Se quer conselho, não siga meu carro não
Não sei dar seta antes de virar

Se tudo que é bom é pecado
Me sinto injustiçado ao dizer:
O que é bom pra mim é ruim pra você

...tomara que o proximo não seja amor.

30 de dezembro de 2010

Coração Caipira

Agora já sei plantá teus verso
Num manejo sem instrução
Invez de semente, vai é coração
Deixo exposto meu avesso

 Agora já sei crescê teus verso
Num manejo sem ribeirão
Nessas lavouras vigio chão
Pra brotá só o que peço

Aprenderei colhê teus canto
que dos verso já preparô
De tanta beleza, a todos encantô

Me recebe antes das queimada
Já que o fogo já lambe meu peito
Ouve o coração que na chama brada

Mariá

Mariá da zona sul, do sudeste do Brasil
Não se veste pra agradar essa fama que surgiu
Na escola já era surda pros malandros do "fiu-fiu"
Nem a mãe sabia bem de onde veio o que pariu

É a Mariá,
Sua casa é de bacana
Sua bunda de "negá"

Ela não gostava nada desse berço em que jazia
Não se emperequetava nem pensava em academia
Mas pra sorte da minha vila um sambinha ela curtia
Quando o pandeiro toca já se vê sua alegria

É a Mariá,
Só tem carro do ano
Só me leva pra "matá"

Nessas horas eu me lembro uma vez que a gente enrola
Ela vai direto ao ponto, num instantinho me degola
E depois, meu deus do céu, vê se pode, ora bolas
Vai saindo de fininho e a bundinha inda rebola

É a Mariá,
Morava em Nova Yorque
Só pensava em "resbolá"

Eu que nunca entendi bem o que era essa bebida
Nesse copo afunilado uma azeitona era escondida
Todo mundo black tie, nesse salão isso é a vida
E Mariá já mareada só pedia uma cuíca

É a Mariá,
Sua casa é de bacana
Sua bunda é de "negá"

18 de dezembro de 2010

Soneto do Soneto

Eu não sei escrever soneto
já não sei faz muito tempo
Os versos de mim não fluem
Rimarei com o verso acima, meu bem?

Os primeiros quatro já foram
Que tal agora tentar de novo?
Receitarei um cozido de ovo?
Errei de novo na rima, meu povo

Percebi que não sei metrificar
e fiquei sem fonemas pra gastar
Pra outra estrofe vou pular

Agora só me restam três
devo falar tudo de vez
mas tenho que finalizar, meu freguês

21 de agosto de 2010

Dedicado

Orixá menina,
Usa teu encanto pra fugir
Fuma o teu verde pra sair do chão
Chame com teu jeito de mentir
Meta minha cor em teus olhos
Molho meu jardim, te espero

Quero o teu seio ornado de flores
Dores dilacero com a tua lembrança
Herança do passado, futuro motriz
Tristeza em sigilo e a forma se lança
Abraça o teu peito, me esconde assim
Dissolva minha treva em jasmim

Cansa de sentir
Dança sem pensar
Dobra a vida, vou a lua
Só pra te encontrar
Me leva Laís...
Diz que vai voar

Voa comigo, plana sobre o colorido
Pelo eterno em que me fiz amigo teu
Te faço quem quero só pra ser elo meu


Bruno Faria

15 de abril de 2009

Détourner le sens

Já reli os mandamentos da felicidade
Esperei para ver o sol se pôr
Tentei das vitrines as minhas vontades
Questionei ao mundo se era mesmo amor
Inventei na moça toda minha inspiração
Fiz do espelho meu melhor amigo
Esgotei a não tão incrível fonte da criação
E ainda não sei viver comigo

Onde estará o meu modelo?
Será que já morreu?
Como grito este apelo?
Que trilha a alegria percorreu?

Grito por mim num abismo sem eco
Ouço gritos que não sabem chamar
Sem mais vontade que dê certo
Sigo o conselho de, sem caminho, caminhar

A mesma água cuspida mata minha sede
No pântano escuro estendo minha rede
No cheiro de morte vejo meu deleite
No meu coração, o amor se rende
Deveras sei, ninguém sente!
Tudo só ilusão inoscente
Nada é permanente
Querem cliente
Ela mente
Sómente
eu?
dor!

4 de abril de 2009

Miopia Urbana

Hoje vi dois cavalos se banhando
Não havia peão, eram só os cavalos
Eles se jogavam na água empoçada
com tanta naturalidade que me assustou
E percebi que era assim,
na verdade sempre foi assim.
E digo:
se não fosse
o barulho no motor
o reflexo do vidro
gargalhadas ao meu lado
Jobim em meus fones
a cerca de morte e ferro
e a grande velocidade
Eu sentiria a natureza daquele momento
Senão fosse tudo isso
Me sentiria perto de Deus
não sei se seria bom
mas sentiria.

Bruno Faria

23 de março de 2009

Palavrar

Se braço de poltrona não abraça
Acho que a palavra perde graça
Se a boca do fogão não sente fome
Por que que tem o mesmo nome?
Se a mão do violão não pega nada
Acho que a palavra está errada
Se o fósforo tem algo na cabeça
Alguém me diz o que ele pensa
Desde quando pé de planta tem chulé?
Só se for essa planta do pé?
Quem for plantador de bananeira
Não terá seus pés no chão
Se o alho, cheio de dente, não mastiga
Eu acho que a palavra me castiga
Se a orelha do meu livro não escuta
Num existe palavra mais maluca
Se o cabelo, o milho, não penteia
Acho essa palavra meio feia
Se a perna tem batata e não frita
Pra mim parece esquisita
Se a gente não alcança, não importa
Mas se cresce e enxerga não suporta
E no fim a fantasia vai embora

10 de março de 2009

Do Tempo

Tenho saudades da vida de outrora
Um passado que falta em minha memória
Tão distante e cheio de glória.
O Chico concorda comigo
Mas por não ser meu amigo,
está sempre com uma pulga no ouvido
-Como pode saber sem ter vivido?
Não sei nem como digo.

A distância tráz beleza e coragem
Feio e covarde seria se fosse possível a viagem
Mas de cá... de longe... tudo é miragem
Acolho na força das ilusões passadas
o vigor para meu presente de nadas
Humberto também luta com essas espadas
Enfrentamos dragões e moinhos nessas caçadas

Não gosto desta minha época
onde tudo tem sua técnica
e exatidão na posição cênica
Não eram assim os heróis da Elis
havia liberdade para serem vis
para chegar ao ideal que eu quis
Não me basta, só, ser feliz

Iludido pela hipnose da ampulheta
meu sonho se esvai sem meta
Perguntei ao Jair se era a hora certa
Ele disse pra deixar isso pra lá
ir com laço firme e braço forte
pra que a vida não me entorte
Viver o passado é viver em morte
Cada um tem sua própria sorte

Esse conselho, fingi que não ouvi
Faz falta o que não vi, nem vivi
Se perguntarem, fui por aí
procurar Nara com a verdade
Quem sabe essa ilusão foi realidade?
Baseio-me nessa pequena possibilidade
Será que isso se chama saudade?

Bruno Faria

8 de março de 2009

Por hoje ser hoje

"Maria, Maria, é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta
(...)
Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania de ter fé na vida"
Miltinho

Por hoje ser hoje decidi postar essa letra que acredito ser uma homenagem para as que merecem ser homenageadas hoje.
Pois elas merecem ser "como outra qualquer do planeta" felizes.

Pela liberdade feminina!!!
abracos a todAs

3 de março de 2009

Sincronia

Todos assistimos maldade neste mundo
Todos nós sabemos o caminho do fracasso
Todos agradecemos o chão pra dormir
Todos nós vivemos pensando em morrer
Todos nós temos ouvidos, pois como iria ser?

Nem todos ouvimos por trás das palavras
Nem todos queremos que algo mude
Nem todos podemos contra a Vênus Prateada
Nem todos nos satisfaremos com tudo a comprar
Nem todos viveremos sem ter quem explorar

Ninguém gritará a verdade aos miseráveis
Ninguém levantará do seu sofá
Ninguém quebrará o sistema da injustiça
Ninguém se ofenderá com o ladrão que beija a mão

Pois...

Somos todos um bloco
Somos todos um só
Num mesmo naufrágio estamos
Quem aí sabe nadar?

Uma só marionete
Um só fantoche
Somos a Marinete, alguns o Dom Quixote
Apresentamos para o mesmo público que nos controla
Eles querem nos ver tomando Coca-cola
O que é bem fácil, aprendemos na escola

Os cavalos dão coice
Os leões rugem
Os gatos fogem
E João...
João?

João está decorando a musiqueta do espetáculo
o patrocínio quer saber se há verdade
nas palavras mentirosas que ele tem a dizer.
E João na sua canção:
- Eu estava desempregado não sabia o que fazer
Continuo sem trabalho mas tenho com o que bater
Peguei um dinheiro emprestado venham todos ver
Pago em 300 vezes com juros. Agora já posso ter
Aquele lindo carro, pra você eu vou dizer
Venha pegar emprestado. Nós gostamos de você!

Todos bateram palmas. A hipnose está completa.
João está feliz, mas seu vizinho não.

- Como ele pôde comprar? Minha mulher vai me largar.
O dele é mais bonito que o meu. Quando chegar ela vai pensar:
“Que carro lindo do João! Aqui não é o meu lugar.
Você merece um pé na bunda. Eu quero me separar."

Todos bateram palmas. O vírus é contagioso.
Daqui a pouco também estará o vizinho do João, luxuoso

Vamos todos ver o mundo num espelho!
E ai de quem meter o bedelho!

Bruno Faria

Este texto foi escrito há muito tempo, achei melhor não muda-lo pra manter sua identidade. Mesmo pensando em correções consideráveis.
Obrigado a todos

16 de fevereiro de 2009

O não-poema filosófico

A vida não faz sentido... é verdade!
As vezes tendemos a querer mistificar acontecimentos a fim de tornar grande algo que nasceu pra ser pequeno.
Digo "nasceu" intencionalmente pois a vida também nasceu...
de quem?
deus? Não, ele não existe!
Sabe, não há grandiosidade em ser vivo.
O fato de viver não nos eleva, pois na natureza tudo vive.
A natureza é uma só. Nós que somos plurais, individuais.
O resto é grupo, nós sozinhos.
São imortais pois são gênero.
Nós? Mortais solitários, morremos junto com nosso egoísmo.
Somos os únicos a andar em linha reta em um universo que anda em círculo.
Talvez essa seja a escolha, viver por um momento ou estar morrendo eternamente.
Concordo, a vida ainda não faz sentido. Mas e se fizesse? Como seria? Nos prenderiamos a esse sentido? Não... com certeza não.

6 de fevereiro de 2009

Curta Quinta

Amores da minha vida...
a primeira engravidou
a segunda se mudou
a terceira transviou
a quarta apenas continuou
a quinta ainda não veio
O velho vidente de quinta
quinta-feira me disse
que a quina era minha
no quinto sorteio ganharia
Melhor que a quarta seria
sem espaço para a sexta
Nenhuma vontade de voltar
Nenhuma fatalidade pro avançar
Satisfeito com o que tenho
do jeito como está
do jeito como estou
da forma que ficará
Quando irá eternizar?

31 de janeiro de 2009

Homenagem a uma tarde

Onde meus olhos não procuram mais,
seu cheiro descreve minha alma,
o silêncio se cala em meus ouvidos,
e teu toque fala à minha pele,
a mesma brisa toca, no mesmo instante,
meu rosto e seus cabelos.
O mesmo frio que constrange minha ação
aperta seu coração sedento por movimento
Ou estaria ele feliz nesse torpor?
Como esperar certeza de algo tão frágil?
Ou seria tão frio e invisível aos sentimentos?
O meu problema é querer saber
e o seu...
bem...
Não sei qual é o seu.
Só queria que soubesse de mim com alguma convicção
tirada de não sei onde
Só quero que seja em mim algo
Plausível de preferência...
Mesmo que não conte
que me queira, que me tenha, que me engane,
que me leve, que me use, me abuse,
me conheça, ou me negue.
Mas que seja pois já é.
E pergunto, esperando que digas com clareza:
Do que nunca vivemos,
devo sentir saudade ou esperança?

Bruno Faria

29 de outubro de 2008

Classificados

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HERÓIS:

Vende-se herói, político experiente e respeitado no exterior. Com seus contatos conseguirá, enfim, te trazer a fortuna tão esperada. Sempre alinhado com sua distinta gravata vermelha e cabelos grisalhos possui o semblante da sabedoria e seriedade.

Vende-se herói, homem do povo que quebrou as correntes para lutar por você. Está sempre pronto a brigar contra os opressores e sorrir para os desfavorecidos. Identificado por sua camisa vermelha (marreta biônica e antenas compra-se separadamente) e barba este é o herói que segura na sua mão, pois só assim se faz o cordão humano.

Vende-se herói, a flexibilidade de propostas é sua maior característica. Sem vestígios de firmeza, deixa que você governe por ele (desde que seja o patrocinador). Sua vontade não é discutida, assim como os ideais partidários também não são. Um homem que acredita na democracia!


Informamos que todos já vem com cara de honesto*
Tenha já o seu!
*já vem com a aparencia, personalidade não incluída

validade de 4 anos

20 de outubro de 2008

Pré-requisitos para uma vida feliz

Ter amigos
Ter amados
Ter amigos amados
E amados amigos

Ter uma fantasia não realizada
Ter várias sendo realizadas
Ter realizações fantasiosas
E fantasiar realizações

Ter pensado em virar hippie
Ter tentado aprender violão
Ter desistido de virar hippie
Ter cansado do violão

Ter sono vendo televisão de tarde
Ter perdido o sono e ido pra TV à noite
Odiar ficar sem televisão dia de semana
Não se lembrar da televisão aos fins de semana

Ter alguém pra conquistar
Ter sido conquistado por alguém
Lembrar de alguém todo dia
Todo dia ser lembrado por alguém

Ter deixado pra amanha
Ter vivido um dia hoje
Ter vivido o amanha, hoje
Ter percebido o hoje, amanha

Ter saudades de pessoas
Ter saudades de ocasiões
Ter ocasiões para matar saudades de pessoas
Ter saudade dessas ocasiões

Ter rido sozinho
Ter vontade de gritar sem motivo
Não gritar sem motivo
Ter motivo para rir sozinho

Ter certeza da dúvida
Ter dúvida da certeza
Não saber, às vezes
Nunca dizer que não sabe

Ter vontade de ser mais
Ter certeza que nada acima te garante felicidade
Saber que se não tem... ah, e daí

Bruno Faria

27 de setembro de 2008

Pena

Ponho aqui um poema de um jovem brasileiro que começa a ganhar seu espaço. Pode até não parecer muito impressionante, mas, conseguir espaço proclamando a arte livre (livre de politicagem, capital, interesses, egos...) e seguindo sistematicamente aquilo que prega, é para poucos... na verdade só sei dele até hoje...
Esse poema me soa como um grito num mundo governado por cifrões, onde se mede o homem pelo seu salário. Será que é tão difícil entender que somos mais do que podemos ter no bolso? Ou que a arte vale por si?
Bem... acho que essa indignação está bem explicitada no texto, tornando-se redundante a minha manifestação... então, embebedam-se desse poema.
A POESIA (ainda) PREVALECE!!!
Composição: Fernando Anitelli e Maíra Viana

O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Um sorriso por ingresso
Falta assunto, falta acesso
Talento traduzido em cédula
E a cédula tronco é a cédula mãe solteira
O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Acordes em oferta, cordel em promoção
A Prosa presa em papel de bala
Música rara em liquidação
E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
A Luz acesa
Lá se dorme um Sol em mim menor
Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior
O palhaço pena quando cai o pano
E o pano cai
A porcentagem e o versorifa, tarifa e refrão
Talento provado em papel moeda
Poesia metamorfoseada em cifrão
O palhaço pena quando cai o pano
E o pano cai
Meu museu em obras, obras em leilão
Atalhos, retalhos, sobras
A matemática da arte em papel de pão
E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
A luz acesa
Já se abre um sol em mim maior
[Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior]

17 de agosto de 2008

Dissertação em /ka/

O acaso é a melhor intenção
Joga-se dados sem nenhuma razão
Cara ou coroa só por diversão
Acaso ocasiona a causa da causalidade
Caçamos com um tacape um porquê sem haver

Coisas acontecem ao acaso
Os casos de casamento cabem na caçamba
Eles corroeram quando carícias fora dele conheceram

Quente ficou o cotidiano
de queridas Cassandras
capazes de cópulas cretinas
Sem esquecer do cuidadoso carinho no couro cabeludo
num cafuné querido por quem é
Só pra ter o cansado corpo novamente em pé

Cantorias gemidas cabem no coração
Acabando com cada caco de fé
Colaborando com a queda da que faz feijão
Caso a casa caia, caiu
Casamos por acaso
Casamento que: cadê quem viu?

Cacete caído em coma na cama conhecida
Já nas bodas de couro no couro nunca dá
Mesmo cacete carente querendo calcar
em colchões encaroçados depois de um bar

É decadente encantar o destino
Crescemos em ocasiões causadoras de consequências
Em contos sem escrituras
Corremos cada qual pra um canto
Nunca cada canto p'rum qual

Cacofonicamente incalco na cuca
o curso corrido onde o cuco
não canta a cada hora, como antes
canta quando quer
quebrando correntes,
criando crimes
Queira querer!
Ou cante contente no continente
Procure a cura com candeeiro
Encontre o caprichoso acaso
catando capa de destino

Bruno Faria

23 de junho de 2008

Instante

Por dois segundos
Consigo entender tudo
Tudo fica claro, tudo fica brando
Quando se pensa que são dois segundos

Raro instante onde tudo é um
Nada é separado, corpo fechado
Sujeito e objeto se confundem,
na vida e na frase sem ordem
que só os poetas mortos
escrevem em ossos

O tudo é calmo e coerente
Não me importo
Não fico nem triste, nem contente
Mas também não sou indiferente
Ou o sou à flor da pele.

Indiferença à flor da pele
Seria um sentimento?
Ou a total falta dele?
Não é mais que por um momento
Não agüentaria se não fosse

Por dois segundos
Na boiada não sou boi
Nem quero bancar o rei
Não olho pro passado que foi
Mas sei qual é a sua lei

Não penso nada
Nada vi, nem falo
Na ambigüidade do verso acima
Elaboro qualquer rima
Mas continuo em frangalho
depois do tempo passado

Não sei a razão
Nem a condição
Não sei se é por opção
Status divino, saber sem função
Deve ser assim que Ele sabe

Agora acabou o tempo
E eu voltei a não saber


Bruno Faria